sábado, 11 de dezembro de 2010

DESENVOLVIMENTO X PRESERVAçÃO

SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - Parte II

Denis Russo Burgierman – Jornalista e Colunista da Veja.com

Você deve estar ouvindo falar sobre o grande dilema amazônico: a necessidade de desenvolver a região não combina com a necessidade de manter a floresta em pé, essencial para evitar o aquecimento global. Pois esse é um falso dilema. Isso ficou claro conversando com o Beto Veríssimo, um dos principais cientistas da floresta, pesquisador da seriíssima ONG Imazon, reconhecido no mundo inteiro.
O modelo que temos hoje é ruim para a floresta e é ruim para o desenvolvimento.
É assim: está lá a floresta. Aí chegam as madeireiras, derrubando tudo. Menos de uma década depois, elas vão embora floresta adentro, em busca de mais madeira. Chega o gado, ineficiente, espalhando bois por uma área enorme. Em cinco anos, o solo está esgotado. A terra amazônica é pobre, é ruim para agricultura. Logo não serve nem para pasto. Mas não tem problema. Quando isso acontecer, as madeireiras já terão avançado mais, e haverá mais terra para os bois. Até que vai acabar tudo.
É óbvio que esse modelo é insustentável. O que não é tão óbvio é que ele não é nem sequer lucrativo (a não ser para uma meia dúzia de pessoas). O que a pesquisa de Beto mostrou é que esse jeito de explorar a floresta dá “preju”. Ele juntou um monte de dados para mostrar que, depois que esse processo começa, a região fica efetivamente mais pobre. O PIB, medida de riqueza, cai.
Todos os indicadores sociais – doença, mortes, violência – pioram. O Brasil fica mais pobre.
É o que ele chamou de modelo de “boom-colapso”. Primeiro há uma sensação de desenvolvimento. Madeireiras abrem as portas, o preço da terra sobe, pessoas arrumam empregos. Aí, quando o solo se esgota, tudo fecha, todo mundo perde o emprego e o lugar fica mais pobre do que era antes. As taxas de homicídio explodem.
Como escapar desse modelo absurdo? Não é fácil. Mas o primeiro passo é parar de avançar sobre a floresta. E como parar de avançar sobre a floresta, se o incentivo da terra barata e da vigilância falha é tão irresistível? Bom, você pode ajudar. A dica do Beto:
Eu acho que você tem que evitar qualquer carne produzida na Amazônia. Com a madeira, já é possível saber a procedência e separar a madeira legal, certificada, da que destrói a floresta. Mas com a carne não. Os pecuaristas fizeram muito pouco progresso nesse aspecto. A única solução é comer apenas carne produzida em outras regiões.
E como saber se a carne que você compra vem da Amazônia ou não? É difícil, mas três grandes redes de supermercado (Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart) já se comprometeram a não vender carne de lá. Esperemos que outros mercados e açougues sigam o exemplo, mas, enquanto isso, uma dica segura é optar por um desses três. Se pararmos de avançar sobre a floresta, podemos recuperar as terras já desmatadas e colocar as 80 milhões de cabeças de gado da Amazônia para pastar lá, com mais eficiência do que hoje.
Fazer essa mudança vai custar caro. Mas, ao final do processo duas coisas vão acontecer: a floresta vai ser salva e o Brasil vai ficar mais rico.
Como se vê, o dilema do desenvolvimento X preservação é uma bobagem.

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